cada pingo de chuva que caia sob o céu parecia ironicamente me queimar por completo
queimando meu coração, eu continuava andando na chuva
haviam talvez dois ou três abrigos
mas eu continuava ali
sendo molhada pelos pingos de chuva que encharcavam meu coração de dor e fogo que queimava lentamente numa dor excruciante
talvez se eu...
talvez se eu fizesse aquilo
ou talvez isso
talvez...
mas deixa o meu coração queimar.
eu guardo bem as cinzas depois
às vezes também há
tornados
ciclones
tempestades
e até dilúvios
meu coração já se encharcou tantas vezes que é irônico o fato de ele queimar
sentimentos são coisas tão abstratas quanto andar lentamente na chuva, se molhando por completo
sentimentos são coisas tão abstratas que a melhor opção é expressá-los de maneira tão
não sei se quero sair da chuva.
às vezes, sinto como se quisesse desistir e me afogar nela
não sinto que alguém me entenda
não saberia o que falar para ninguém
eu só sei que
o meu coração arde e dói
arde e dó ironicamente com as gotas da chuva que cai fervorosamente sob mim
continuo me rasgando com a lâmina e me pergunto porque sou assim, por quê?
a minha bolha é impermeável ou a bolha das outras pessoas que é?
eu me sinto tão solitária aqui na minha bolha.
a vida das pessoas não tem espaço pra mim
eu simplesmente não sou alguém significante o suficiente pra isso
eu estou sozinha por opção ou
estou sozinha por rejeição?
eu vejo as pessoas por aí
seguindo suas vidas
cujo um dia eu já fiz parte
vejo elas vivendo suas vidas e sendo felizes
mas nada disso me inclui
eu acredito que, como eu falo desde criança,
eu não nasci pra viver.
acredito veemente que existem pessoas que não nasceram pra viver.
e eu sou uma delas
eu não tenho grandes propósitos na vida
eu não sei muito bem o que quero fazer
minúsculas coisas me deixam completamente fora de controle
não há definição melhor que a de bomba relógio.
eu sou um copo d'água esperando por uma gota cair sem pretensão para iniciar um tsunami
eu sou a pele que a faca quer cortar
eu sou tudo menos
alguém